By Fabrício Carvalho
O Fluminense resolveu modificar os seus planos para o futuro a longo prazo nesta semana e optou pela demissão do técnico Fernando Diniz. A decisão foi tomada por conta diante de forte insatisfação da torcida e muita pressão das organizadas, que chegaram a protestar de forma violenta com o elenco na véspera do clássico diante do Flamengo.
Após uma temporada de glórias com a conquista inédita da Conmebol Libertadores e o vice-campeonato do Mundial de Clubes, a última imagem de Fernando Diniz no Fluminense consistiu em uma expulsão na reta final do clássico contra o Flamengo, deixando o campo de jogo de forma solitária em derrota que deixou o Tricolor afundado na lanterna da Série A após 11 rodadas.
Mas afinal, quais foram os principais motivos que levaram ao fracasso de Fernando Diniz na temporada 2024 do Fluminense? O 90min preparou um artigo com alguns dos pontos que merecem sua atenção.
Fluminense não soube lidar com pressão nas saídas de jogo em 2024
O maior problema que impactou a temporada de Fernando Diniz no Fluminense consistia justamente na pressão adversária nas saídas de jogo. O Tricolor sempre acumulava muitos jogadores no campo ofensivo para fazer a saída com os pés. No entanto, a pressão forçava passes em profundidade e criava situações de jogadores receberem a bola com a tendência de conduzir sozinho sem o apoio de outros companheiros.
Em diversas situações, o jogador que recebia a bola nas costas da pressão tinha poucas opções de passe, sendo que na temporada anterior, o Fluminense conseguia construir parte considerável de seus gols após trocar poucos passes. Ou seja, se utilizar dos passes curtos e das aproximações desde a defesa em superioridade numérica com a posse de bola virou uma estratégia sem eficiência em 2024.
Um dos jogadores mais impactados pela deficiência do Fluminense consistiu em Germán Cano. Em 2023, o artilheiro recebia a bola dos defensores por trás da pressão e conseguia êxito em criar o espaço. Durante a temporada 2024 com Diniz, o argentino recebia a bola com mais dois zagueiros dentro da área, uma dificuldade para um atacante não habituado em ser pressionado.
Fernando Diniz falhou em encontrar soluções com a saída de Nino
O agora ex-técnico também possui responsabilidade pela deficiência do Tricolor Carioca na atual temporada, mas a saída de bola qualificada – principal marca do trabalho bem sucedido de 2023 – foi muito prejudicada também por conta de questões do elenco.
A diretoria comandada por Mário Bittencourt subdimensionou a saída de Nino, um zagueiro com virtudes de meio-campista, que tinha como principal qualidade a ótima qualidade na condução da bola. Além disso, a ausência de André fez com que Diniz não conseguisse êxito em suas tentativas de solução, incluindo volantes desempenho função de zagueiros.
Mesmo quando contou com a presença de André neste ano, o Fluminense já apresentava problemas pois Martinelli possui muita dificuldade para defender a grande área com André. Ou seja, durante todo o primeiro semestre, o Fluminense não conseguiu funcionar dentro de seus padrões.
A partida que marcou a despedida de Fernando Diniz repetiu muitos dos problemas observados desde o início da temporada. O Fluminense trocava passes e avançava até o campo rival quando não pressionado, mas a incapacidade de infiltração era notável. Além disso, os erros de Gabriel Pires quando pressionado pela marcação alta rubro-negra e o nervosismo também chamaram atenção.
Demissão na Seleção Brasileira impactou Diniz (e o Fluminense)
O descontrole emocional do Fluminense em diversos momentos da temporada como um todo mostram uma diferença considerável em relação à 2023, e o clássico diante do Flamengo evidenciou essa situação. As falhas de Gabriel Pires provocaram discussões entre os jogadores e uma postura de "cabeça baixa", sem demonstrar reação.
No final do primeiro tempo,Paulo Henrique Ganso revidou um lance de agressão em cima de David Luiz com a bola em disputa dentro da área, correndo o risco de cometer um pênalti desnecessário. Lima deixou o campo após segundo cartão amarelo, provocando a revolta final de Fernando Diniz e o seu último cartão vermelho pelo Fluminense.
Desde a saída precoce e conturbada da Seleção Brasileira, o ex-técnico do Tricolor pareceu ter desenvolvido uma antipatia com qualquer análise crítica com as atuações do Fluminense. Com o objetivo de tentar provar a sua qualidade após perder a vaga na Seleção para Dorival Júnior, Diniz resolveu se agarrar completamente em suas convicções e acabou pagando caro por isso.
E agora? Planejamento para o Mundial de 2024 é impactado
O Fluminense conseguiu mudar de patamar no cenário do futebol sul-americano com a sua primeira conquista de Libertadores, em novembro de 2023, diante do Boca Juniors, em pleno Maracanã. A montagem do elenco, as convicções que levaram ao título e a enorme competitividade criaram um interesse da comunidade do futebol internacional com o trabalho de Fernando Diniz.
A renovação contratual anunciada em 22 de maio prometia um trabalho à longo prazo para Diniz desenvolver sua filosofia dentro do Fluminense, com objetivo de deixar um legado para categorias de base. Porém, a decisão de Mário Bittencourt um mês depois de renovar o contrato mostrar que a atual gestão não está pronta para lidar com fortes pressões.
Sem a presença de nenhum técnico, o Tricolor Carioca sai muito atrás na disputa da Copa do Mundo de Clubes em 2025, torneio que marcará a maior exposição internacional da história do Fluminense. Neste momento, não há filosofia e muito menos planejamento em torno do elenco (planejado por Fernando Diniz) para o torneio do próximo ano.
Tabela do Brasileirão 2024 após 11 rodadas
O "fantasma do rebaixamento" assombrou as Laranjeiras e encerrou a paz no atual campeão da América, promovendo a demissão de Fernando Diniz e a chegada de Marcão como técnico oficial até o fim da atual temporada buscando a recuperação no Brasileirão e a busca por títulos na Copa do Brasil e na Conmebol Libertadores.
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Este artigo foi publicado originalmente no 90min.com/pt-BR como Da glória ao fracasso: um raio-x sobre a demissão de Fernando Diniz no Fluminense.
