Portugal ainda procura o rumo mas pelo menos sabe que está em mãos seguras (crónica)

Uma, duas, três. Três momentos sublimes de Diogo Costa e outros tantos remates certeiros de Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva permitiram a Portugal apanhar o bilhete para Hamburgo nos quartos de final, onde vai defrontar a França. Uma eliminatória decidida nos 11 metros de onde sobressaiu a excelência do guarda-redes do FC Porto na mesma baliza onde evitara aos 114 minutos o golo de Sesko, da Eslovénia, que apareceu isolado na sequência do único erro de um monstro chamado Pepe, e onde Oblak defendera o penálti de Cristiano Ronaldo aos 105’.

Uma montanha russa de emoções precisamente no lado onde estava o grosso dos adeptos portugueses, que podem agora celebrar nas ruas, nas praças, nos bares e nas casas, mas que quando passar a euforia terão legitimidade para questionar o porquê de Portugal jogar tão pouco a ponto de precisar ir a penáltis para resolver uma eliminatória frente à 57.ª seleção do ranking FIFA, que apesar da boa organização defensiva está longe de ser intransponível.

Do Catar à Alemanha

Entrou bem Portugal na partida. Regressado de castigo, Rafael Leão assumiu as despesas do ataque, assumindo o um contra um, ganhando faltas, abrindo espaços e deixando Cristiano Ronaldo em boa posição para marcar (8’), mas o drible do avançado do Al Nassr saiu curto e a defesa eslovena (que bravos foram os seus centrais!) resolveu o assunto.

A pressão era bem exercida por Palhinha e Vitinha, as transições davam-se com naturalidade, mas terminava em cruzamentos ou remates perto da perfeição, mas longe da eficácia, essa ténue linha que separa a glória do fracasso.

Com o andar do jogo, porém, Portugal foi perdendo identidade. A equipa dependia excessivamente do lado esquerdo (ligações Nuno Mendes/Leão), o que a tornou previsível. Roberto Martínez tentou mudar isso na segunda parte, pedindo a Palhinha, Vitinha e Bruno Fernandes que variassem mais o jogo para o lado direito, onde João Cancelo decidiu abrir o livro, embora raramente conseguindo ser tão bom na definição como no drible ou na aceleração que precedeu o passe demasiado curto ou longo.

Mas tal como sucedeu na primeira parte, a Seleção criou essa dependência excessiva no flanco contrário, o que com o passar do tempo permitiu à Eslovénia reequilibrar-se. Quando tal aconteceu, Cancelo perdeu protagonismo, Bernardo Silva, que já pouco o tivera no primeiro tempo, ainda menos interventivo se tornou e Leão há muito que se apagara.

O selecionador nacional decidiu então ir ao banco, transformando o 4x3x3 de Portugal num 4x4x2, colocando Diogo Jota perto de Cristiano Ronaldo e pondo Francisco Conceição no lugar do extremo/avançado do Milan, mantendo Bernardo Silva na direita e recuando Bruno Fernandes para a posição de Vitinha, que tinha sido até aí um dos principais responsáveis por a bola se manter redonda num relvado em mau estado.

É certo que Jota isolou Ronaldo e foi ele a sofrer o penálti que CR7 falharia, mas estas mexidas, teoricamente no sentido de provocar igualdade numérica no ataque de Portugal com a defesa da Eslovénia serviu para acentuar a imagem de uma Seleção que ainda não encontrou o seu futebol e que parece acusar a ansiedade de Cristiano Ronaldo, à imagem do que sucedeu no Mundial do Catar, onde as lágrimas de CR7 o final do jogo com Marrocos correram mundo, mas onde Diogo Costa foi o réu numa saída infeliz a um cruzamento. Desta vez foi o herói. Estão feitas as pazes com o destino.