Celtics à venda

Quando, em meados da década de 90, conversava com o então vice-presidente das comunicações e relações públicas da NBA Terry Lyons, que trabalhou 27 anos na Liga e acompanhou desde o início o commissioner David Stern a revolucionar a NBA para se tornar naquilo que é um dos campeonatos mais bem-sucedidos a nível mundial, vende a temporada para «214 países e territórios», por vezes falávamos sobre as obrigações, normas e direitos que existam (e existem) na Liga quanto à obrigatoriedade e frequência dos jogadores terem de falar com a imprensa.

Tudo aquilo surpreendia e maravilhava-me e comparava a quantos anos luz estava da realidade da comunicação desportiva portuguesa. E com tristeza, passadas três décadas, ainda continua.

Uma das justificações que Lyons dava era que para encher os pavilhões precisavam que os jogadores falassem, aparecessem, caso contrário aquele objetivo seria difícil pois eram os melhores produtos que a Liga tinha para mostrar. E dizia: «Nenhum proprietário está disposto a pagar 200 ou 300 milhões de dólares para comprar uma equipa para ter prejuízo». Pura verdade.

Foi precisamente 360 milhões de dólares (336 milhões de euros) que a Boston Basketball Parteners L.L.C, sociedade que controla maioritariamente os Celtics detida por Wyc Grousbeck, 63 anos, e Steve Pagliuca, 69, pagou em 2002. Agora, cerca de 15 dias depois de terem conquistado o título pela 18.ª vez, surpreendem ao anunciar que deseja vender a maior parte da quota até final de 2024 ou início de 2025, para que a transação seja finalizada em 2028, com Grousbeck a manter-se na posição de Governor até lá.

A diferença é que os Celtics, segunda formação com mais campeonatos ganhos das grandes ligas profissionais na América do Norte, apenas superados pelos 27 dos New York Yankees no basebol, estão avaliados, segundo a análise anual da Forbes apresentada em dezembro, em 4,7 mil milhões (4,39 mil milhões), o que os coloca como o quarto clube mais valioso da NBA depois de Golden State Warriors (7,2 mil milhões de euros), New York Knicks (6,2 mil milhões) e Los Angeles Lakers (6 mil milhões).

Curiosidade, há 22 anos Grousbeck e Pagliuca, este é também dono do clube de futebol italiano da Atalanta, tinham como sócio Joe Lacob, que em 2010 teve de vender a quota minoritária para comprar os… Warriors por 450 milhões (419 milhões) e torná-los na única franchise a destronar Knicks e Lakers do topo em cerca de duas décadas.

Diz-se que Wyc Grousbeck, que em 2002 hipotecou a casa para comprar os Celtics, apenas estará a vender grande parte da quota por ir divorciar-se da mulher Emilia Fazzalari e terá de fazer repartição de bens, enquanto Pagliuca já comunicou que pretende continuar ligado ao sucesso do clube, o que pode significar que deseja integrar a nova sociedade que surgir.

Ora, com o novo contrato de direitos de transmissão dos jogos e eventos a ser anunciado ainda neste defeso ou até ao início de 2025 que se espera que atinja os 60 ou mesmo 70 mil milhões (56 ou 65,3 mil milhões), dependendo do tempo de duração, o qual marcará mais uma nova era de invejáveis receitas para clubes e jogadores, não só porque estes têm direito a 51 por cento dos lucros da Liga e porque os tetos salariais das equipas serão aumentados e também poderão ganhar mais, é com enorme expectativa que se aguarda por quanto serão os Celtics vendidos.

Sabendo-se que em 2023 Mat Ishbia teve de pagar 4 mil milhões (3,7 mil milhões) para adquirir os Phoenix Suns, que surgem apenas em 11.º no mesmo ranking da Forbes e não trazem com eles o rótulo de campeões e principais candidatos para 2024/25, que uma quota minoritária dos Brooklyn Nets (13.º) foi recentemente transacionada por 6 mil milhões (5,6 mil milhões) e, já em novembro, Mark Cuban abriu mão de 73 por cento dos Dallas Mavericks (7.º) para a sociedade liderada por Miriam Adelson por 3,5 mil milhões (2,26 mil milhões), com os Boston Celtics espera-se um recorde, apesar do TD Garden não pertencer ao clube, que terá repercussões em todas os restantes 29 clubes assim como no valor da caução dos, pelo menos, dois novos se espera que entrem numa expansão a ser brevemente anunciada.